COLUNA
O Ano de 2025 em Palmas e no Tocantins: Crise, Instabilidade e a Força dos Pequenos Negócios
COLUNA
O ano de 2025 ficará marcado na história de Palmas e do Tocantins como um período de fortes turbulências políticas, de um clima de instabilidade que mexeu com a rotina das instituições públicas e do dia a dia da população. Ao mesmo tempo em que o cenário político enfrentava uma de suas maiores crises, o setor produtivo, especialmente os pequenos negócios, mostrou capacidade de reagir, crescer e gerar oportunidades.
O início de 2025 trouxe expectativas positivas para Palmas e para o Tocantins. Projetos importantes estavam em andamento, programas municipais e estaduais avançavam, e a economia dava sinais de estabilização após um ciclo de incertezas nacionais. Entretanto, no decorrer do ano, o cenário começou a mudar.
Decisões judiciais afastaram tanto o prefeito da capital quanto o governador do Estado, gerando um vácuo de liderança e abrindo espaço para que os vices assumissem funções estratégicas em um momento crítico. Foi aí que os acontecimentos tomaram rumos inesperados.
A notícia dos afastamentos caiu como um raio sobre a população. Para muitos, foi algo repentino e difícil de compreender. Sem uma comunicação clara e em meio a especulações, a sensação de incerteza aumentou. Com o afastamento do prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos, quem assumiu foi o vice Carlos Velozo, que, de forma apressada, começou a promover mudanças internas. Em poucos dias, quadros técnicos foram substituídos, programas foram interrompidos e contratos passaram por revisões sem planejamento adequado.
A prefeitura, que vinha mantendo um ritmo de trabalho considerado estável, passou a enfrentar atrasos em serviços essenciais, dificuldades de coordenação e uma ruptura no diálogo que existia com lideranças comunitárias e empresariais. O impacto foi sentido rapidamente nos bairros, nos pequenos comércios e até no funcionamento da máquina administrativa.
A situação no Governo do Estado não foi diferente. O vice-governador que assumiu o cargo começou uma série de articulações que, com o passar dos dias, mostraram-se precipitadas. Secretarias foram reorganizadas sem critérios técnicos claros, projetos estaduais ficaram comprometidos e decisões tomadas de última hora resultaram em desconfiança entre servidores, prefeitos do interior e setores produtivos.
O Estado, que já vem sendo manchete nacional devido a afastamento de governadores, viu a situação se agravar. Licitações ficaram suspensas, repasses atrasaram e o clima de incerteza contaminou prefeituras e empresas que dependiam de previsibilidade para manter suas atividades. Tanto na capital quanto no Estado, a falta de planejamento e a pressa em consolidar um novo modelo de gestão, pelos vices, provocaram efeitos imediatos. Esse período passou a ser conhecido por muitos como um curto, mas intenso, “caos administrativo”.
Projetos sociais, programas de incentivo econômico, ações na área de educação e iniciativas voltadas ao empreendedorismo foram afetados. Equipes técnicas que vinham acompanhando políticas estruturantes foram desmobilizadas, e o conhecimento acumulado foi momentaneamente perdido. A mudança repentina nas lideranças públicas trouxe impactos perceptíveis no clima social. População, servidores e representantes do setor privado passaram a adotar uma postura mais cautelosa, aguardando desdobramentos e evitando assumir novos compromissos.
Após semanas de debates jurídicos, recursos e manifestações públicas, a justiça determinou o retorno do prefeito e do governador aos respectivos cargos. Essa decisão representou um momento de alívio para grande parte da população, que via na estabilidade administrativa um caminho para reorganizar o que havia sido interrompido.
Com o retorno ao cargo, o prefeito precisou agir com rapidez para retomar programas paralisados, reorganizar equipes e reconstruir pontes com diferentes setores da sociedade. A prioridade passou a ser estabilizar o funcionamento da prefeitura e garantir que serviços essenciais voltassem ao seu ritmo normal. Medidas emergenciais foram adotadas, e, aos poucos, a cidade começou a sentir os efeitos positivos da retomada do controle administrativo.
O governador também enfrentou o desafio maior de desfazer decisões tomadas sem critérios técnicos e recolocar o governo estadual nos trilhos. Foi necessário restabelecer equipes que haviam sido substituídas e reabrir canais de diálogo com lideranças políticas, empresariais e comunitárias. A palavra que marca esse período é reconstrução, não apenas de políticas públicas, mas da confiança da população e da credibilidade institucional.
Enquanto o cenário político enfrentava turbulências, um outro movimento ganhava força no Tocantins: o crescimento dos pequenos negócios. Mesmo diante das incertezas, pequenas empresas, microempreendedores individuais, produtores rurais e prestadores de serviços mostraram uma capacidade surpreendente de adaptação. Os pequenos negócios são, historicamente, a espinha dorsal da economia tocantinense. Em 2025, esse papel ficou ainda mais evidente. As MPEs geraram empregos em diversas cidades, fortaleceram a economia local, mantiveram renda circulando mesmo em períodos de instabilidade e mostraram criatividade e capacidade de reinvenção. Muitos empreendedores investiram em novas tecnologias, ampliaram a presença digital e buscaram capacitações para melhorar a gestão dos seus negócios. Municípios como Araguaína, Gurupi, Paraíso do Tocantins e Porto Nacional viram seus pequenos negócios contribuírem de maneira decisiva para a economia local. Lojas, pequenos comércios, produtores rurais, serviços urbanos e negócios inovadores ajudaram a manter a dinâmica de trabalho e renda, mesmo quando o ambiente político parecia desfavorável.
Entidades como o Sebrae desempenharam um papel essencial nesse processo. Programas de capacitação, consultorias e iniciativas de incentivo ao empreendedorismo ajudaram milhares de empreendedores a se reinventar durante o ano. Esse trabalho colaborou para que pequenas empresas aumentassem sua produtividade, se adequassem a exigências legais, adotassem práticas de inovação e encontrassem novos mercados, incluindo mercado internacional.
Apesar de todas as dificuldades políticas, o Tocantins encerra 2025 com um saldo importante na geração de emprego. Grande parte dessas vagas veio justamente do empreendedorismo e a retomada administrativa após a volta dos gestores ajudou a estabilizar políticas de desenvolvimento, e os empreendedores responderam com otimismo. Os pequenos negócios foram responsáveis por estimular cadeias produtivas como comércio, serviços, turismo local e agricultura familiar. Cada pequeno negócio representa uma história de resiliência e em muitos casos, famílias inteiras encontraram no empreendedorismo uma forma de superar dificuldades e contribuir para o crescimento das suas comunidades.
O ano de 2025 deixa lições importantes para gestores públicos, empreendedores e para a sociedade como um todo. Crises políticas impactam diretamente a vida das pessoas. A falta de planejamento e as decisões precipitadas deixam rastros que podem comprometer serviços públicos e a economia. Mesmo diante de instabilidade, os pequenos negócios mostraram que são um dos pilares do desenvolvimento do Tocantins e investir em capacitação, inovação e gestão é fundamental para que esse setor continue crescendo.
Experiências vividas em 2025 mostram que mudanças precipitadas podem custar caro. Uma gestão sólida depende de preparo técnico, diálogo e responsabilidade. Esse ano não será esquecido tão cedo por quem vive em Palmas ou em qualquer cidade do Tocantins. Foi um período marcado pela instabilidade política, por decisões controversas e por momentos de verdadeira preocupação. Porém, também foi um ano que revelou o caráter resiliente da população tocantinense e a importância dos pequenos negócios para manter viva a economia e gerar esperança. A crise deixou marcas, mas também ensinou que, quando a gestão pública está alinhada com as necessidades da sociedade e quando o empreendedorismo local é valorizado, o desenvolvimento se torna possível, mesmo nos momentos mais desafiadores.
2025 foi um ano difícil, mas também foi um ano de aprendizado, de reinvenção e de avanço para quem acredita no poder transformador da boa gestão e do empreendedorismo local. Um Feliz Natal e um Feliz Ano a todos tocantinenses e que Deus abençoe nosso Estado.
Bruno Vieira é Professor, pós-graduado em Gestão do Desenvolvimento Humano nas Organizações, Gerente da Unidade de Articulação e Competitividade – UAC do Sebrae Tocantins, Vice-Presidente da Região Norte da Confederação Nacional das Micro e Pequenas Empresas e Empreendedores Individuais – CONAMPE e Presidente do Conselho de Inovação e Desenvolvimento Econômico de Palmas – CIDEP
A CAPITAL
Serviços de Urgência e Emergência às gestantes: o cuidado começa na Atenção Básica
O equilíbrio da rede de saúde materno-infantil no Tocantins passa, inevitavelmente, pelo fortalecimento do serviço obstétrico na Atenção Básica. Dados deste ano evidenciam um cenário que preocupa gestores e especialistas em saúde pública: o Hospital e Maternidade Dona Regina (HMDR), referência estadual em obstetrícia, está absorvendo uma demanda muito acima do esperado, e grande parte dela poderia ser resolvida nas próprias Unidades Básicas e de Pronto-Atendimento municipais.
Localizado na capital, o HMDR integra a Região de Saúde Capim Dourado, e é a maternidade de referência para atendimento hospitalar de média e alta complexidade dos municípios de Aparecida do Rio Negro, Lagoa do Tocantins, Lizarda, Novo Acordo, Palmas e Santa Tereza. Além disso, é segunda ou terceira referência para todas as demais cidades do Estado caso as unidades regionais de referência estejam momentaneamente impossibilitadas de atender as demandas mais graves.
Apesar dessa ampla configuração territorial, a demanda proveniente de Palmas concentrou 4.066 das 5.647 internações obstétricas realizadas no ano de 2024, conforme informações do DataSUS. Na prática, isso significa que 72% de todo o volume faturado pela maternidade estadual naquele ano (R$ 2,8 milhões de um total de R$ 3,9 milhões) correspondem somente às gestantes da capital.
Em 2025, conforme dados apurados até julho, o percentual de atendimentos gerais referente a pacientes de Palmas subiu para 82%, ou seja, das 12.800 pacientes atendidas no período, 10.485 pacientes são de Palmas.
Ao analisarmos a classificação de risco das gestantes da capital, 7.807 casos eram pouco urgentes (74%) e 843 casos eram não urgentes (8%).
Os números expressivos de atendimentos reforçam uma realidade já conhecida pelos profissionais do setor: a imensa maioria dos atendimentos obstétricos que chegam ao HMDR não apresentam perfil de urgência e poderiam, conforme preconizado pelas diretrizes nacionais da Rede de Atenção à Saúde, ser acolhidos inicialmente pelas Unidades de Pronto-Atendimento (UPA’s) e pela rede de Atenção Básica (UBS’s).
Fluxos não observados: impacto direto na maternidade
De acordo com os dados disponibilizados no Sistema de Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (SCNES), atualizados na base nacional em 30 de novembro de 2025, o HMDR disponibiliza serviço de atendimento ambulatorial com clínicas especializadas, serviço de atendimento de urgência e emergência e serviço de atendimento hospitalar, contando com os seguintes leitos:
– Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal Canguru: 6 leitos;
– Unidade de Cuidados Intermediários Neonatal Convencional: 20 leitos;
– UTI Neonatal Tipo II: 20 leitos;
– Cirurgia Geral: 1 leito;
– Ginecologia: 20 leitos;
– Neurocirurgia: 1 leito;
– Clínica Geral: 1 leito;
– Obstetrícia Cirúrgica: 26 leitos;
– Obstetrícia Clínica: 24 leitos;
– Pediatria Cirúrgica: 1 leito;
– Pediatria Clínica: 1 leito.
Mesmo com toda essa estrutura operacional e humana de excelência, o HMDR opera constantemente com capacidade máxima, pois a porta hospitalar se tornou o primeiro destino de mulheres com queixas que, frequentemente, não configuram risco clínico imediato.
Os procedimentos mais realizados, como parto normal sem distocia, cesarianas e laqueaduras, por exemplo, mostram que o hospital vem acolhendo não apenas casos complexos, mas também situações que não justificariam o acesso direto a um serviço de alta complexidade. A consequência disso é direta e preocupante: tempo de espera maior, equipes sobrecarregadas e risco elevado para gestantes que realmente necessitam de atendimento hospitalar especializado e de urgência.
Já existe estrutura para aliviar o sistema de emergência obstétrica
A capital dispõe de duas UPA’s (Norte e Sul) equipadas com salas de observação, leitos, equipes multidisciplinares e protocolos de classificação de risco. A própria política nacional de urgência determina que essas unidades funcionem como porta intermediária, evitando que casos leves sejam direcionados inadequadamente ao ambiente hospitalar.
Além disso, a Atenção Básica, presente em diversos bairros da capital através das Unidades Básicas de Saúde, é o ponto ideal para conduzir o pré-natal, orientar gestantes, monitorar riscos e reduzir procura inadequada por atendimentos emergenciais pouco ou nada graves. Quando esse acompanhamento é falho ou tardio, a porta hospitalar passa a concentrar demandas evitáveis, exatamente o que os números do HMDR comprovam.
Reorganizar o fluxo é urgente
O fortalecimento da Atenção Básica, dos Centros de Especialidades e a utilização adequada das UPA’s com presença de ginecologistas obstetras em regime de plantão, ao menos nos finais de semana, são medidas essenciais e pouco complexas para reorganizar o cuidado obstétrico na capital, mas que gerariam um impacto positivo enorme em toda a Rede de Atenção à Saúde. Isso implementado significa:
– ampliar o vínculo da gestante com sua equipe de referência;
– orientar corretamente os sinais de alerta;
– acolher e classificar riscos de forma resolutiva;
– reservar a porta hospitalar para os casos que realmente necessitam de cirurgia, terapia intensiva ou acompanhamento de alto risco.
Com Palmas respondendo por mais de 70% do movimento obstétrico do HMDR, reestruturar o fluxo assistencial básico é não apenas recomendável, mas indispensável para garantir segurança às gestantes, eficiência do gasto público e um melhor funcionamento da rede de saúde como um todo.
O serviço de emergência do Hospital e Maternidade Dona Regina precisa voltar a ser o espaço prioritário de atendimento às mulheres em situação de risco real. E isso começa pela valorização da Atenção Básica do SUS, a primeira porta, o primeiro cuidado e a base fundamental do sistema de saúde que funciona.
Gustavo Bottós é pai, casado, advogado graduado em Direito pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e reside em Palmas/TO desde 2006; pós-graduado em Direito Público, Direito Civil e Direito Processual Civil; atualmente ocupa o cargo de Diretor-Geral do Hospital e Maternidade Dona Regina, além de ser Consultor e Instrutor de Políticas Públicas credenciado junto ao SEBRAE Tocantins. Ocupou, dentre outros, os cargos de Secretário de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Palmas (2012); Subsecretário de Estado da Saúde do Tocantins (2015); Secretário-executivo de Desenvolvimento Urbano e Serviços Regionais de Palmas (2020/2021); Secretário de Desenvolvimento Econômico e Emprego de Palmas (2022), Secretário de Governo e Relações Institucionais de Palmas (2024) e Secretário da Casa Civil de Palmas (2023/2024).
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